quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A vida não chega para sermos tudo... mas dá para fazermos muito mais do que julgamos ser capazes

Não sou mãe, mas posso considerar-me mãe. Sinto.me mãe. Ontem nasceu mais um elemento da minha família, cresceu, alargou o meu coração, e o de toda a família... Gosto da sensação de elasticidade do coração. Só posso falar do meu, mas sei que há muitos assim também. Já conheci os meus alunos conotados como os piores da escola, os ditos "marginais" porque estão à margem de um padrão que alguns definiram como certo, pergunto o que é certo? é certo eles não terem tido amor em crianças? é certo os pais deles terem morrido? é certo não terem pais como os meus? Sim, sou uma privilegiada, sem sombra de dúvidas, e a mais pequena coisa que posso fazer para os ajudar é em primeiro lugar não os por de parte como toda a gente facilmente faz. Tudo o que não está dentro das normas está errado. Peço-vos que pensem nisto, e pensem que se alguma vez na vida se sentiram à parte, e que quantas pessoas se matam, e sofrem porque ninguém partilhou com eles o que eles têm de bom. Garanto-vos que estes miudos tem algo para me ensinar e para me dar. Não menosprezem nunca ensinamentos, sejam eles de crianças, velhos, jovens, pessoas diferentes de voces.
Enfim... parece um sermão, mas não é, é uma partilha (desculpem-me quem achar que é ou um sermão ou uma teoria, vos garanto que não o é).
E depois da emoção do nascimento da Joana, depois do meu irmão ter feito um gesto que para mim é a realização da paternidade, (um pai fazer com o filho o que o seu pai fez com ele é sem duvida a realização) para mim, qualquer pai que sinta ao fim de 30 anos que o que fez com o filho no dia em que a irmã nasceu, o mesmo que o meu pai fez com o meu irmão quando eu nasci para ele não sentir ciumes da mana. É simplesmente extraordinário. Tudo fica. Tudo volta, até o bem, já dizia o nosso amigo STRINDBERG. Os meus pais, também babados com o nascimento da 2ªneta, só podem estar também babados com o filho.
Para além disto, ainda me aconteceu outra coisa fantástica, tive a oportunidade de ser bombeira por um dia. E adorei, saí do curso e brinquei.
"agora já não quero ser PNC, quero ser bombeira" e ouvi:
"Mas tu não te decides? Ele é professora de quimica, ele é professora de teatro, ele é assistente de bordo, ele é bombeira. A vida não te chega?"
Ao que eu respondi :" Não, tal como dizia o nosso amigo e entendedor da alma humana, Fernando Pessoa, "A Literatura é a prova que a vida não chega" Eu tenho a ousadia de refazer a frase e digo. "Cada dia que passa é a prova que a vida não chega" :)

4 comentários:

memyselfandi disse...

Subscrevo inteiramente as suas últimas palavras. Já agora, Parabéns!

Guida disse...

A maturidade das tuas palavras, a serenidade perante as "adversidades", o teu coração do tamanho do mundo, fazem com que sinta um grande orgulho, não só em partilhar contigo algum material genético, mas em ter o privilégio de conhecer um ser humano tão extraordinário!

Bem hajas, prima! (e, mais uma vez, obrigada por seres essa nuvem que voa e que, constantemente, insiste em destapar o sol)

Um beijinho de alguém que, em muitas coisas, quando for "grande" quer ser como tu.

Guida

Guida disse...

A maturidade das tuas palavras, a serenidade perante as "adversidades", o teu coração do tamanho do mundo, fazem com que sinta um grande orgulho, não só em partilhar contigo algum material genético, mas em ter o privilégio de conhecer um ser humano tão extraordinário!

Bem hajas, prima! (e, mais uma vez, obrigada por seres essa nuvem que voa e que, constantemente, insiste em destapar o sol)

Um beijinho de alguém que, em muitas coisas, quando for "grande" quer ser como tu.

Guida

Fatima Carmo disse...

Como é que o mundo cabe todo no teu coração? E eu que julgava que o mundo era grande!