quarta-feira, 29 de julho de 2009

Efeito Boomerang

"Deixa-me contar-te uma velha história, que poderá ajudar-te a compreender melhor - continuou Julian. - Era uma vez uma velhinha frágil a quem falecera o marido carinhoso. Depois de enviuvar, ela foi viver com o filho, a nora e a neta. Todos os dias, a vista da senhora piorava e o mesmo acontecia com a sua capacidade auditiva. Às vezes, as suas mãos tremiam tanto, que as ervilhas rolavam do seu prato e a sopa escorria-lhe pelos cantos da boca. O filho e a nora ficavam aborrecidos com a porcaria que ela fazia e, um dia disseram que já chegava. Portanto, montaram uma mesinha para a senhora, a um canto da cozinha, junta da despensa, e obrigaram-na a comer ai, sozinha. Ela olhava para eles à hora da refeição, com os olhos rasos de lágrimas, mas eles nem se davam ao trabalho de lhe dirigir a palavra enquanto comiam, excepto para repreende-la por ter deixado cair a colher ou o garfo.
"Uma noite, antes do jantar, a netinha estava sentada no chão, a brincar aos legos. " O que é que estás a construir?" perguntou o pai, todo interessado. "Estou a construir uma mesinha para ti e para a mamã", disse ela, " para vocês comerem a um canto, quando eu for grande". O pai e a mãe ficaram tão constrangidos que não falaram durante o que pareceu uma eternidade. Depois começaram a chorar. Nesse instante, tomaram consciência da natureza dos seus actos e da tristeza que haviam causado. Nessa noite, levaram a velhinha de volta para o seu devido lugar à mesa e, a partir desse dia, ela comeu todas as refeições na companhia deles. E quando um pedacinho de comida caía da mesa ou um garfo aterrava no chão, já ninguém parecia importar-se"
"Nesta história os pais não eram pessoas más. - disse Julian. Precisavam simplesmente que a centelha da consciência ateasse a sua vela da compaixão."


in " O Monge que vendeu o seu Ferrari" Robin Sharma