sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Maria do coração dividido

"Um nosso trisavô, Beltrão Juba de Leão, homem muito poderoso, recebeu na Quinta, o sobrinho José, filho de um irmão que morrera em combate. Quando José chegou à adolescência, o tio Beltrão Juba de Leão contou-lhe que prometera ao irmão casá-lo com a sua filha Maria, caso ele morresse na guerra. O José não cabia em si de felicidade porque há muito que se apaixonara em silêncio pela prima. Mas um dia, apareceu na quinta um jovem príncipe, todo janota, herdeiro duma grande fortuna, que pedir a mão da Maria. O nosso trisavô, logo esqueceu a promessa feita ao irmão e concedeu a Maria em casamento sem a consultar, como era hábito nesses tempos.
Triste e derrotado, o José decidiu partir para terras distantes porque não se atrevia a ir contra a decisão do tio.
Dirigiu-se ao cais e pediu trabalho num barco que fosse para bem longe.
Quando o barco estava prestes a largar, vieram avisá-lo que alguém o procurava. Era a Maria que não podendo viver sem ele, fugira da Quinta e o tinha seguido.
Partiram, casaram, tiveram 3 filhos e um dia, passados 5 anos, a Maria ao saber que o pai estava muito doente, quis visitá-lo.
De volta ao nosso país, dirigiram-se à Quinta. O José foi à frente temendo a reacção do tio Beltrão Juba de Leão e disse-lhe meio a medo, que a Maria estava no jardim.

- O que fez o tio Beltrão Juba de Leão quando soube que a Maria estava no jardim?

- Não acreditou!

"Impossível!" Rugiu o tio Beltrão na sua voz ainda temível, apesar da doença.
A Maria, desde que tu partiste, ficou de cama e nunca mais ouvimos a sua voz. Foi vista por todos os médicos, sábios e curandeiros mas ninguém lhe conseguiu arrancar uma palavra, um sorriso.
O José, sabendo que a Maria sempre estivera ao seu lado, insistiu para irem à janela. No jardim, junto à árvore de fogo onde nós subíamos em pequenos, lá estava a Maria com os 3 filhos, à espera de autorização para entrar e ir beijar a mão ao pai de quem tinha muitas saudades.
Então, para enorme espanto de ambos, vêem uma segunda Maria sair de casa em camisa de dormir, ao encontro da outra Maria que estava junto da árvore e fundir-se com ela num abraço para voltarem a ser apenas uma."

in Sinais do Medo

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