domingo, 30 de dezembro de 2007

Papalagui

"A vida do Papalagui faz lembrar um homem que vá de canoa a Savau e que, mal se afaste da margem, pense: "Quanto tempo levarei daqui a Savau?" E assim, põe-se a pensar, sem ver a risonha paisagem que vai atravessando. Depara-se-lhe então na margem esquerda, o flanco de uma montanha, da qual já não desvia mais os olhos.
"Que haverá ali, detrás das montanhas? - pensa ele - "Alguma estreita ou profunda baía?" Tanto pensa que se esquece de fazer coro com os jovens remadores; nem sequer ouve os alegres gracejos das raparigas. Ainda mal passou a baía e a montanha, e já um novo pensamento o atormenta: "Daqui até à noite não irá haver tempestade?" Ei-lo em busca de nuvens negras no céu límpido. Pensa e torna a pensar nesse tempestade que pode vir e desabar. Não desaba tempestade nenhuma, e assim, chega pela noite, a Savau, sem o minimo contratempo. Foi como se não tivesse feito qualquer viagem, pois os seus pensamentos andaram sempre longe do seu corpo e da canoa. Mais valia ter ficado na cabana, em Upolu."


in "O Papalagui, discursos de tuiavii, chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul"





Um comentário:

Goldmundo disse...

Se todos nós vivêssemos o que julgamos saber, seríamos bem mais felizes. E já não saíamos da cabana sem arredar pé de lá.